sexta-feira, 30 de abril de 2010

À PROCURA DA FADA MADRINHA

Vanize Zambom Niederauer - Professora
Zero Hora - 16/06/2007

Como mãe e professora, estive pensando: não está fácil ser criança hoje em dia. A educação infantil (de zero a seis anos) engatinha no Brasil e já dá sinais de ser um "bebê em crise". Em primeiro lugar, porque ainda não conseguiu conceituar "infância" e enxergar a criança como ela é e o mundo em que ela vive. Em segundo lugar, porque ainda não conseguiu definir no que consiste a escola infantil. Por quê? Para quem? Para os pais ou para as crianças? Entre tantos objetivos, estamos atingindo a essência da infância? O que tem a ver a escola com a essência da criança? 
Em terceiro lugar, surgem as questões teóricas: como as noções construtivistas estão equivocadas! Afinal de contas, Piaget é para o PPP (Projeto Político-Pedagógico) ou para as crianças? Piaget estudou o desenvolvimento do pensamento e da inteligência da criança, mas algum dia disse que a base da infância era a cognição? Que a infância era a construção do conhecimento?!
Vejo nas escolas infantis o projeto Meio Ambiente. Sim, é importante aprender a cuidar do mundo, mas seria bom aprender antes a cuidar da sua casa. Mapas, globos, nomes: Oceano Pacífico, Atlântico; Região Sul, Região Leste ... e quantos pais orgulhosos por ouvirem seus filhos - que não sabem onde fica a sua rua - repetindo essa nomeclatura. Essa é a realidade da criança? Isso é cosntrução de conhecimento? Talvez seja do professor.
Aí vêm os números e as letras, que em muitos lugares ainda chegam às crianças num trenzinho cujos vagões são A-E-I-O-U. Pobre Emília Ferreiro, foi atropelada pelo trem... Mas, "mal não faz", há quem diga! Vamos adiante. Mudam as estações e chegam as festas juninas. Aqueles piás que o ano inteiro usam a camisa do Grêmio e do Inter deparam com a professora mostrando o chapéu de palha e a camisa xadrez com retalhos. Caipiras, nós? Mas não nos ensinam a cantar desde cedo que "povo que não tem virtude acaba por ser escravo"? E as nossas façanhas não servem de modelo nem às crianças da nossa terra?
Nossas crianças não precisam de pintinhas na cara e dente pintado de preto, precisam é visitar um CTG e descobrir que aqui tem chula! Não deviam voltar para casa pensando no mosquito da dengue, mas na princesa que deita sobre 20 colchões e ainda sente a ervilha que está embaixo! Por onde andam o Pequeno Alfaiate e a Rapunzel? Devem ter se perdido na camada de Ozônio.
Infância é época de se encantar, até porquel para desencatar temos a vida inteira!
Nossas crianças não precisam de mais tecnologia, precisam aprender a pular corda e subir em árvore - aquela que dão amora, lembra!!! Nossas crianças não carecem de vogais que andam em trilhos, mas de Elias José, Cecília Meireles, Urbim, Quintana, Capparelli. E nós precisamos de mais Paulo Freire, mais Ruben Alves e menos cartilhas. Precisamos de mais memórias para lembrar como era ser criança. Quem sabe aí, a infância, a educação e os nossos valores façam as pazes.

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